CRÓNICA #13 – A luz de Novembro

Caros Lisboetas,

Novembro tem uma luz que só ele conhece. É mais baixa, mais serena, e pousa sobre a calçada como um cobertor fino. A cidade abranda, mas sem se calar. Há um silêncio diferente, feito de passos apressados e de casacos que se fecham à pressa antes de atravessar a Praça da Figueira.

Na Suíça, o ambiente muda também. Já não se procura tanto a esplanada — agora é lá dentro que o calor se encontra. O som das chávenas a pousar mistura-se com o rumor da chuva lá fora, e o cheiro a bolo quente parece chamar quem passa.
Há algo de bonito nesse contraste: o frio que fica à porta e o aconchego que se espalha cá dentro, como se o calor tivesse memória.

As manhãs trazem clientes com as mãos frias, à procura de café forte e de palavras curtas. Alguns ficam em silêncio a olhar pela janela, outros falam do tempo, da cidade, ou simplesmente esperam que a vida volte ao ritmo deles.
É o mês em que Lisboa parece precisar de um pouco mais de ternura.

Do meu lado, continuo com os sapatos. As graxas secam mais depressa com o frio, mas o gesto é o mesmo: dar brilho ao que o tempo escurece. Talvez seja essa a minha forma de acompanhar novembro —

um mês que não exige muito, mas recompensa quem sabe olhar com calma.

Com carinho,

Vasco