CRÓNICA #9 – Maio: Quando Lisboa Abranda

Caros Lisboetas,

Maio tem qualquer coisa de particular. Não anuncia nada em voz alta, mas muda tudo à sua maneira. O frio já não nos persegue pelas calçadas, e o calor ainda não chegou para nos fazer correr à sombra. É um mês de equilíbrio, e talvez por isso mesmo seja um dos meus preferidos para estar aqui sentado, na Praça da Figueira, a engraxar sapatos e a observar a vida a passar.

Esta semana, reparei numa coisa simples: os passos estão mais soltos. As pessoas andam com menos pressa no corpo. Já não apertam o casaco, já não escondem as mãos nos bolsos. Há mangas arregaçadas, olhos levantados, e uma vontade discreta de aproveitar mais um minuto de sol.

A cidade também se solta. As crianças voltam a correr pela praça — como aquela que vi ontem a rir às gargalhadas enquanto equilibrava um Babá na mão. A mãe, com aquele jeito de quem protege sem apertar, tentava acompanhar o passo, sem o travar demasiado. Maio é também o mês delas — das mães que, entre um cuidado e outro, deixam os filhos descobrirem o mundo ao seu ritmo. Nessas pequenas cenas vê-se o que Lisboa tem de mais bonito: o espaço para cada um viver à sua maneira.

Na Suíça, nota-se que a estação mudou. As mesas no exterior começam a ser a escolha predileta, as vozes são misturadas com o som das chávenas, os bolos são mais leves no prato e há sumos a brilhar ao sol. Há quem venha só por uns minutos, e há quem fique ali um bom bocado — como quem precisa de reaprender a abrandar. E eu, no meu posto de sempre, vou assistindo a tudo isso como quem vê um filme que conhece bem, mas que nunca cansa.

Maio lembra-nos que a leveza também conta. Que há beleza em caminhar devagar, em ouvir melhor, em saborear com calma. E que, às vezes, tudo o que precisamos é de um sapato bem engraxado, uma mesa ao sol e um bolo partilhado — mesmo que seja só connosco.

Com carinho,

Vasco