Caros Lisboetas,
Há dias em que a cidade de Lisboa parece ficar contida no calor. Julho traz esse efeito: as manhãs começam cedo, as pedras da calçada aquecem depressa e até os pássaros parecem cantar mais levemente. A vida, no geral, abranda por instinto – e nas pausas, volta-se ao que sabe bem.
Na Pastelaria Suíça, os gestos repetem-se com a já tão conhecida precisão que reconforta: a colher a mexer o café acabado de tirar, a leitura do jornal debaixo das sombras frescas, ou o pão estaladiço servido na hora certa. Tenho ainda reparado que, nestes dias mais longos e quentes, há uma certa nostalgia no ar – talvez seja do cheiro a protetor solar, misturado com o perfume das senhoras que ainda se vestem “como dantes”, mesmo que só para ir até à pastelaria.
Julho também de traz outras memórias. Este é o mês em que se assinala o Dia dos Avós, que, no fundo, não precisa de uma data específica para lembrar quem nos ensinou a comer com calma, a dizer “bom dia” com o chapéu na mão, ou a sentar à mesa sem presa. Mas há beleza em reconhecer os que nos trouxeram até aqui. Na Suíça é impossível não reparar neles, nos avós, que chegam com os netos pela mão, que partilham um bolo, um sumo, e que contam histórias como quem dá vida ao passado.
Vejo-os muitas vezes ali sentados, a mostrar aos mais pequenos como partir um croissant, a ensinar-lhes que um Mil-Folhas, na realidade, não tem mil folhas, tem menos. E os miúdos riem, como quem acabou de desvendar um enorme segredo.
Eu, cá deste lado, continuo com os meus panos e a minha graxa, a ver os verões passarem e as famílias a mudarem-se – mas há coisas que se mantêm. Como o cheiro dos bolos, o tilintar das chávenas e aquele lugar, na pastelaria, onde o tempo parece não ter pressa nenhuma.